O outro em nós

Como “vivemos dentro de nós”, a coisa mais difícil é deixar de olhar para si e, de outro modo, reparar, verdadeiramente, na existência do outro. Isso acontece porque o ego (eu) é muito forte em nossa natureza, condicionada por instintos primitivos, como sobrevivência, posse, prazeres, dentre outros…
Não é, portanto, antinatural que ajamos assim, mas não é inteligente, saudável e nem prudente, que continuemos com a mesma postura, a qual nos afastará das pessoas e nos trará, no fim das contas, a sensação de incompletude ou de infelicidade, porquanto é impossível, mesmo, como dito em linda canção, ser feliz sozinho. O que fazer, então?
Claro, há muitos caminhos, muitos conselhos, muitas indicações, umas úteis, outras nem tanto. O ideal é que bebamos em várias fontes: filosóficas, religiosas, morais, psicológicas. Por experiência própria, penso, contudo, que alguns passos são imprescindíveis para o nosso aperfeiçoamento e para a nossa inserção no meio social como vetores de positividade.
O primeiro, consiste em entender quem somos. Somos matéria, através da qual conhecemos o mundo físico e com ele interagimos; mas fundamentalmente somos espírito, dimensão esta responsável pelos nossos pensamentos e ações. Estabelecida tal premissa, o passo seguinte é trabalhar para que o espírito, iluminado pela razão, domine os sentidos e as emoções. Não é fácil. Basta olhar para os lados e verificar quantas vidas através dos séculos, têm sido desperdiçadas, quantas incompreensões nos rodeiam, quanta indiferença existe entre nós e quanta gente não sabe que rumo tomar, ou toma sempre o rumo errado…
Para não aumentar essa triste estatística é necessário, então, dar o terceiro passo, que importa, como dizia o mestre nazareno, em nascer de novo, a fim de que só façamos aquilo cujo resultado seja bom, belo e justo. Aí, seja pela persuasão racional, seja pela revelação mística, conhecendo, enfim, quem somos e saindo de nós, estaremos em condições de chegar ao outro, de sentir suas dores, suas necessidades, seus anseios; de saber de seus sonhos e de suas esperanças; e poder ajudá-lo, com amor fraternal e solidariedade, da maneira que nos for possível, abrindo canais para que flua, em contrapartida, energia semelhante, a qual nos edificará mutuamente.
Lembrei agora, já no apagar das luzes deste texto, de um livro de autoria de Ryan Holliday, que analisou a trajetória de vida de algumas personagens históricas e de pessoas comuns, chegando à conclusão de que o sucesso ou insucesso delas foi determinado pelo maior ou menor domínio do ego, que seria o nosso pior inimigo. Não há como discordar.
Para construirmos uma sociedade fraterna só, mesmo, fazendo essa delicada, mas maravilhosa operação.
Sobre o Autor:
Júlio Antônio Lopes

Amazonense de Manaus, Advogado, jornalista, escritor e editor. Em âmbito regional é membro da Academia Amazonense de Letras; do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas; da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – seu atual presidente; da Academia de Letras do Brasil-Am; da Academia de Letras e Culturas da Amazônia; da Associação dos Escritores do Amazonas; e da Associação Brasileira de Poetas e Escritores PanAmazônicos. Idealizador e fundador da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas – a Casa de Bernardo Cabral. Integra, como membro efetivo, a Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas; a Academia Internacional de Jurisprudência e Direito Comparado; a Confraria Dom Quixote; a Associação Nacional dos Escritores, sendo, ainda, sócio correspondente da Academia Carioca de Letras; e da Academia Cearense de Direito;) e sócio honorário da Academia Paraibana de Letras Jurídicas. Faz parte também do Conselho Consultivo da Academia Brasileira de Direito.
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